domingo, 26 de maio de 2013

A crise de 1929


No final da década de 1920, uma crise diferente das crises ocorridas anteriormente ficou conhecida no mundo capitalista, que afetou toda a economia e assumiu um caráter global. Para o melhor entendimento, estima-se que em 1929, havia cerca de 10 milhões de desempregados no mundo. E com a crise, em 1932, o número de desempregados chegou a 40 milhões.

O período entre 1929 e 1932 ficou conhecido como “ciclo infernal” da crise nos Estados Unidos, que era então a principal economia capitalista do planeta. Cerca de cinco mil bancos quebraram e 100 mil indústrias paralisaram suas atividades.

O início da crise
Durante a década de 1920 poucos contemporâneos percebiam que a economia capitalista caminhava rapidamente para uma grande catástrofe. E mesmo as vésperas da crise, poucos tinham noção do que viria em seguida. Em 1928, quando o presidente norte-americano Herbert Hoover tomou posse afirmou: “Hoje, na América, estamos mais perto da vitória sobre a pobreza do que qualquer outro país jamais esteve, em qualquer momento da história.”A partir de outubro de 1929, quando a crise manifestou-se com toda intensidade, provocou uma onda de suicídios, e a maioria das pessoas tentava entender o que havia acontecido. (In:Texto “O que é recessão, Paulo Sandront)

A Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929
Para entender a relação entre a Crise Capitalista de 1929 e a Primeira Guerra Mundial, é preciso retomar o cenário das condições econômicas do mundo. Os Estados Unidos foram os maiores beneficiários da Guerra, em termos econômicos, e eram eles quem supriam a Europa com produtos industrializados, armamento, recursos financeiros e alimentos. Além de expandirem sua influência sobre países da América Latina e Ásia.
“A década de 1920, ou, mais precisamente, os oito anos que separam a depressão do pós-guerra e a Quebra da Bolsa de Valores, em outubro de 1929, foi um período de prosperidade para os Estados Unidos. A produção total da economia aumentou em mais de 50%.” (GALBRAITH, J. K. Dias de “boom” e de desastre. In: ROBERTS, J. M. História do Século XX. São Paulo: Abril 1974. V. 3. P. 1 330.)

A partir de 1925, especialmente, foi verificada uma retração das exportações norte-americanas devido à recuperação industrial da Europa Ocidental. Após da guerra, os Estados Unidos adotaram uma política isolacionista em relação às questões políticas dos Estados Europeus. Com isso, houve uma redução no volume de empréstimos norte-americanos à Europa, o que também contribuiu para a diminuição da capacidade importadora do continente.
Entre 1923 e 1929, os Estados Unidos viveram em um clima de euforia. As inovações tecnológicas na agricultura garantiram o aumento da produtividade que se traduziu em safras recordes. Porém, havia uma tendência de queda nos preços dos produtos agrícolas constante, uma vez que, a partir de 1924-25, as economias européias, que já superavam os efeitos da guerra, tendiam a comprar menos produtos da agricultura norte-americana. Assim, a superprodução e queda de preços afetaram os fazendeiros norte-americanos, que imaginavam ser uma crise passageira.
O setor industrial viveu uma expansão sem precedentes, visível no setor automobilístico, na indústria de construção civil, entre outros setores. Os chamados “sonhos de consumo” (automóveis, geladeiras, rádios e aspiradores de pó) inundaram os lares de muitos norte-americanos. O vertiginoso ritmo da produção e o crescente aumento da produção permitiram às indústrias diminuírem cada vez mais seus custos de produção, levando os produtos cada vez mais ao alcance de mais consumidores. Houve também uma expansão do crediário, que forneceu condições para uma ampliação do ritmo de produção. Entre 1920 e 1929, as vendas a prazo multiplicaram-se por cinco, atingindo uma “fantástica cifra”, para os padrões da época, de 6 bilhões de dólares. Costuma-se afirmar que os ricos nunca foram tão ricos nos Estados Unidos quanto durante a década de 1920.
Porém o aumento da produtividade e a expansão da produção também contribuíram para agravar o quadro de desemprego, camuflado pela mística da “prosperidade permanente”. Embora a produção por trabalhador tivesse aumentado constantemente, os salários mantiveram-se estáveis, bem como os preços, e os lucros das empresas cresciam rapidamente. De maneira geral, o consumo foi incentivado pela ampla oferta de créditos. Muitos consumidores passaram a ter acesso a bens sem, muitas vezes, ter a certeza das condições reais futuras que lhes possibilitassem quitar as dívidas contraídas. Os norte-americanos acreditavam que tudo estava bem com a economia, devido a facilidade das prestações (crediário). Tanto que o país começou a ser considerado um “modelo” de desenvolvimento e prosperidade.
Os capitais excedentes pela “euforia” da década de 1920 foram canalizados também para os países europeus na forma de empréstimos. Com tais empréstimos, a Europa conseguiu reorganizar boa parte de sua economia, e algumas indústrias até passaram a competir com a produção norte-americana. Enquanto os norte-americanos continuaram empolgados com a grande prosperidade dos anos 1920, em 1927 a Europa ultrapassou o volume de sua produção de antes da guerra.
Em tal ritmo global, a economia norte-americana teve queda em suas exportações. No final da década de 1920, os empréstimos externos norte-americanos para os países europeus foram retirados, o que reduziu mais ainda as exportações. A redução da produção aumentou o desemprego, o que afetou o poder de compra dos trabalhadores, diminuindo ainda mais o consumo e provocou mais desemprego.
Durante o período de prosperidade, as grandes companhias norte-americanas tiveram suas ações na Bolsa de Valores de Nova York valorizadas constantemente, os valores subiam na mesma medida em que crescia a confiança no sistema. Porém, por ser uma valorização artificial, especulativa poderia ruir ao menor sinal de perda de credibilidade.
A crise econômica mundial explodiu com o colapso da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. Uma especulação desenfreada havia levado valores de títulos a alturas fantásticas, e a venda desenfreada dos mesmos, o que ocasionou um colapso no mercado norte-americano com consequências mundiais. Em 1932 já haviam falido 5000 bancos americanos. Em toda parte a produção diminuiu, o comércio retraiu-se e o desemprego aumentou. Em 1931 faliu o principal banco vienense, o Kredit-Anstalt, precipitando a crise financeira na Europa.

O processo de recuperação
Depois de um momento de perplexidade, os países começaram a tomar medidas visando dominar a crise, porém a mesma era muito mais ampla do que se imaginou e as primeiras medidas de manutenção do liberalismo econômico não tiveram um efeito desejado. Para muitos políticos e economistas, a solução para a crise era uma maior intervenção do Estado na economia. Uma política intervencionista foi proposta pelo economista inglês John Maynard Keynes, que assessorou o presidente Franklin Delano Roosevelt na aplicação de um programa de recuperação da economia conhecida como New Deal.
O New Deal foi caracterizado pela intervenção do Estado da economia desvinculando medidas liberais de autorregulação do mercado. O Estado criou medidas protecionistas, incentivou as exportações e aumentou de gastos públicos como forma de estimular a economia e acabar com o desemprego.
Principais medidas tomadas:
·  Incentivo à construção de obras públicas, abrindo novas oportunidades de emprego;
·  Criação de um seguro-desemprego;
·  Criação de um fundo que garantisse os depósitos populares nos bancos;
·  Abolição definitiva do trabalho infantil;
·  Diminuição da jornada de trabalho para 8 horas;
·  Aumento dos salários dos operários;
·  Fixação dos preços dos produtos básicos;
·  Promoção de reformas na legislação social, ampliando os direitos dos sindicatos;
·  Concessão de empréstimos aos fazendeiros arruinados.

A política keynesiana, adotada por vários outros países, foi a base para a instalação do Welfare State (Estado de Bem-Estar Social). O Estado de Bem-Estar Social marcou a ação das políticas sociais, regularização dos direitos trabalhistas como forma de manter crescimento capitalista. Neste modelo de governo o Estado interventor tem como objetivo garantir o equilíbrio econômico através da regulação e da viabilização de políticas públicas através de uma carga alta de tributos.
Este modelo de Estado se estendeu até a década de 1970, quando as crises do petróleo anunciaram uma nova crise capitalista, que como solução vai buscar reduzir os encargos do Estado através da retomada da “liberdade do mercado” somada a ideia de “Estado mínimo”, o que determinou à implementação do Estado Neoliberal, e junto com ele o sucateamento dos bens público, a perda dos direitos sociais, a precarização do trabalho, entre outras consequências nefastas a sociedade e benéficas a manutenção do sistema capitalista.

Texto escrito por Mariana Monnerat.

APROFUNDANDO OS ESTUDOS: QUESTÕES DE VESTIBULAR.

1) (PUC-RS 2010) Inicialmente favorecida pelas condições internacionais do pós-Primeira Guerra, a economia dos Estados Unidos conheceu um período de forte expansão e euforia nos anos 1920. Todavia, ao final dessa década, o país seria um dos focos da crise mundial de 1929 e da Grande Depressão que a seguiu. Um dos motivos dessa violenta reversão de expectativas foi:

a) a falência das principais medidas estabilizadoras do New Deal. 
b) a política antitruste determinada pela Sociedade das Nações. 
c) a perda de mercados devido à descolonização afro-asiática. 
d) a superprodução no setor primário dos Estados Unidos. 
e) o crescimento da dívida norte-americana em relação às principais potências europeias. 

2) (ENEM cancelado 2009) A depressão econômica gerada pela Crise de 1929 teve no presidente americano Franklin Roosevelt (1933 -- 1945) um de seus vencedores. New Deal foi o nome dado à série de projetos federais implantados nos Estados Unidos para recuperar o país, a partir da intensificação da prática da intervenção e do planejamento estatal da economia. Juntamente com outros programas de ajuda social, o New Deal ajudou a minimizar os efeitos da depressão a partir de 1933. Esses projetos federais geraram milhões de empregos para os necessitados, embora parte da força de trabalho norte-americana continuasse desempregada em 1940. A entrada do país na Segunda Guerra Mundial, no entanto, provocou a queda das taxas de desemprego, e fez crescer radicalmente a produção industrial. No final da guerra, o desemprego tinha sido drasticamente reduzido.( EDSFORD, R. America’s response to the Great Depression.
Blackwell Publishers, 2000. tradução adaptada).
A partir do texto, conclui-se que:

a) o fundamento da política de recuperação do país foi a ingerência do Estado, em ampla escala, na economia.
b) a crise de 1929 foi solucionada por Roosevelt, que criou medidas econômicas para diminuir a produção e o consumo.
c) os programas de ajuda social implantados na administração de Roosevelt foram ineficazes no combate à crise econômica.
d) o desenvolvimento da indústria bélica incentivou o intervencionismo de Roosevelt e gerou uma corrida armamentista.
e) a intervenção de Roosevelt coincidiu com o início da Segunda Guerra Mundial e foi bem sucedida, apoiando- se em suas necessidades.

GABARITO:

01) d
02) a.

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